- Que horas são? Acho que você demorou.
Cansado, ele responde com um tom de explicação conformada.
- Quarenta minutos de ida e quarenta de volta, preso em um congestionamento abismal, é um tempo de nada. Problema dos que moram na entrada de uma cidade grande, em véspera de feriado… Chegar ao bendito mercado consumiu minhas santas horas de sono.
Ela se estica para alcançar o celular no sofá, e verifica que são 4h07.
- Tanto tempo… Eu iria junto, mas você pediu que eu esperasse em casa.
Sério, ele ajeita as compras em cima da mesa da cozinha e senta na banqueta, abrindo uma água com gás. Enquanto bebe os primeiros goles no gargalo, analisa a mulher, considerando-a um tanto graciosa, apesar dos cabelos suados e desgrenhados em seu perfil sonolento. Guarda para si os elogios, não seria algo credível para o momento.
- Apesar de movimentada, a estrada ainda é perigosa no alto da madrugada. E você estava podre demais. Ainda está, diga-se de passagem.
Giovanna agradece ironicamente e senta ao lado dele. Beija-o no olho e encosta a cabeça no seu ombro.
- O que você trouxe? – Diz.
- Nossas necessidades básicas para sobreviver três dias isolados em uma casa longe de qualquer comerciante. Comida, filmes, engradados de cerveja, camisinhas – Ri com malícia. – E camisas-de-força, obviamente, para sobrevivermos um ao outro.
Ela retoma os itens mentalmente e responde, espreguiçando-se.
- Certo… Podemos fazer balões com as camisinhas e damos um jeito nos filmes. Vestimos as camisas-de-força e podemos competir testando quem come mais rápido. E os engradados, sei que não existem. Não bebemos tanta cerveja para precisar de alguns por um final de semana… Mas se você quiser encomendar, quem sabe, uma dúzia deles, eu posso entrar em coma alcoólico e ganhar gelatina grátis do hospital.
Ele ri novamente.
- Mesmo com sono, permanece ligada… Juro que amanhã fazemos gelatina, sem risco de contaminação hospitalar. Por que não dorme, querida? Depois de me esperar por duas horas de sufoco, você merece.
- Se você pede… – Disse ela, levantando-se e caindo no tapete da sala. Vinícius liga o abajur e apaga o restante das luzes. Por fim, consente com o local e deita ao seu lado, no tapete confortável no meio do aposento. Enquanto eles se abraçam no chão e lentamente adormecem, os itens perecíveis estragam fora da geladeira. Certamente, deverão retornar à venda no dia seguinte.